Além da carne vermelha: fiéis meditam e evitam serviços domésticos na Sexta-Feira Santa

Tradições religiosas desempenham um papel significativo na sociedade, influenciando a vida das pessoas em diversos aspectos. Em Campo Grande, muitas famílias guardam tradições católicas milenares durante a Semana Santa, que celebra a última semana de vida e a ressurreição de Cristo.

Certamente, a tradição mais popular na Sexta-feira Santa é o jejum de carnes vermelhas ou “quentes”, ou seja, advindas de animais endotérmicos – aqueles que possuem sangue quente. Essa tradição movimenta a economia das cidades brasileiras, como o aumento significativo no comércio e consumo de peixes.

 

A Igreja Católica orienta ainda os fiéis, de forma geral, a guardarem esse dia em silêncio e meditação, sendo encorajados a refletir sobre o sacrifício de Jesus na cruz e aprofundar sua conexão espiritual.

Entretanto, há fiéis que vão além dessas recomendações, seguindo metodicamente outras tradições do cotidiano que são passadas por gerações. Para “guardar” esse dia em reflexão, muitos sequer fazem trabalhos domésticos, como limpeza e cozinha.

‘Dia Santo’

É o caso da dona-de-casa Denise Lopes Paredes, de 54 anos, que conta como se prepara para as celebrações da Sexta-feira Santa.

 

“Temos uma série de costumes e tradições que seguimos todos os anos, como não comer carne e guardar o dia para reflexão e oração, então não cozinhamos, não se varre a casa, tudo para se dedicar à data”, conta a fiel católica.

“Todos os anos reúno minha mãe, minha sogra, para prepararmos na quinta-feira os alimentos que iremos consumir na sexta-feira, então fazemos pratos típicos, como chipa, sopa paraguaia e peixe, dessa forma, na sexta-feira não cozinhamos”, explicou ela. “Depois ainda distribuímos para os parentes”, completa.

Sobre o significado da Sexta-feira Santa, ela destaca a importância da data para a fé católica. “Certa vez ouvi a reflexão de um padre que disse que a vida de Jesus é contrária à de todos nós: enquanto nós nascemos para depois morrer, Jesus morre para viver em seguida, através da sua ressurreição”, exclamou.

Na Sexta-feira, ela não deixa de participar das Funções da Sexta-feira da Paixão, como a Via Sacra e o Beijo na Cruz. Além disso, reza o terço e mantém o silêncio e a oração, em uma atitude de introspecção em memória ao dia em que Cristo foi crucificado.

O padre Cleber Brugnano Rosa, pároco da Paróquia Santa Luzia, localizada na região oeste de Campo Grande, explica o significado da Sexta-feira Santa.

“A Sexta-feira Santa é o dia no qual recordamos a crucificação de Jesus, neste dia, fazemos a abstinência de carne vermelha e o Jejum para os maiores de 14 anos e para aqueles que não estão impedidos por questões de saúde. Além do jejum e da abstinência, buscamos a prática da solidariedade, da ajuda ao próximo, do recolhimento, do silêncio, da oração e da meditação da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo”, explicou o padre.

Ele orienta sobre as recomendações para os fiéis na Sexta-feira Santa. “Recomenda-se que faça uma boa confissão (caso ainda não tenha feito), busque o silêncio, a oração e o recolhimento. É importante também evitar distrações e quaisquer atividades que levem ao desvio do significado deste dia”, explicou.

Quanto às tradições de sequer limpar ou cozinhar nesta data, ele recomenda sempre o equilíbrio. “Quanto à estas tradições, levando em conta o significado da data, devemos buscar o equilibro (virtus in
médium est – A virtude está no equilíbrio Aristóteles) ou seja, é importante manter o ambiente limpo porém, não fazer da Sexta-feira da Paixão como um dia comum de faxina e trabalhos exagerados que levam à distração, da mesma forma, na questão do cozinhar neste dia, não fazer ‘comilanças’ e sim, o necessário para os que residem na casa”, orientou.

Em Campo Grande, a programação das paróquias conta com missas, via-sacra e encenações da Paixão de Cristo.

Outras tradições

Os católicos são incentivados a participar das celebrações litúrgicas da Sexta-feira Santa, como a Liturgia da Paixão. Essas cerimônias incluem leituras da Paixão, adoração da cruz e comunhão.

Todas as paróquias realizam a ação litúrgica da Paixão do Senhor. Em Campo Grande, em especial, a solenidade será presidida pelo bispo Dom Dimas Barbosa, às 15 horas, no Mosteiro Cisterciense Nossa Senhora Aparecida, localizado na Av. Eduardo Elias Zahran 2111.

Muitas igrejas realizam ainda a Via-sacra, que é uma devoção que recria os passos de Jesus a caminho do Calvário, com os fiéis percorrem estações que representam diferentes momentos da Paixão.

Os fiéis são instados ainda a praticar a caridade, ajudando os necessitados, seja por meio de doações, voluntariado ou outras formas de serviço.

Outra tradição pouca conhecida é a da não celebração de casamentos nesta data, como sinal de respeito pelo sacrifício de Jesus.

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